A sociedade civil jacuipense precisa decidir o que quer e começar a pautar o processo eleitoral do ano que vem, antes que ele se paute por si mesmo, como sempre acontece e, no fim das contas, termine vencendo o poderio econômico, ou aqueles que tiverem mais astúcia, na disputa entre nomes tradicionais. Astúcia não é necessariamente defeito de caráter, mas, o que se espera é que o eleitorado amadureça, a ponto de distinguir entre caprichos de grupos e projetos políticos consistentes. Para isso, há que se contar com novas lideranças, especialmente juvenis, mas, onde estão elas?
Se, no passado, as pastorais sociais eram o nascedouro dessas lideranças, com um mínimo de formação para compreender a governança local, não são mais, e as escolas que têm a atribuição legal de formar cidadãos aptos ao engajamento social, com base numa leitura crítica da realidade, infelizmente não têm conseguido fazer isso de modo satisfatório, por razões multifatoriais que não teríamos tempo para abordar, aqui.
Assim é que, enquanto nos anos 1990, havia em Riachão do Jacuípe um protagonismo da sociedade civil, nos conselhos municipais e na articulação das lutas populares, na atualidade, esse movimento encolheu, de forma que aquelas lideranças de base que poderiam dar um bom suporte a um projeto de governo inovador agora se esquivam um pouco, talvez por consciência do cenário político local muito afeito ao clientelismo e ao paternalismo. Essa tendência, de fato, só se supera com muita vontade popular e para o povo manifestar tal vontade, lideranças carismáticas precisam atuar.
Ocorre que estamos numa fase da História Contemporânea, em que o individualismo parece ter se cristalizado entre jovens e adultos, inclusive aqueles que adentram as universidades e se formam com importe participação do erário municipal no custeio do transporte universitário. Uma vez na universidade, esses cidadãos e cidadãs caem num turbilhão de demandas de estudos e muitas vezes de trabalho, de tal modo que não conseguem se organizar para retribuir ao município aquilo que neles é investido.
Alguns desses universitários não retribuem o investimento do município e do Estado, pelas dificuldades já mencionadas, outros, porque não querem mesmo, porque são pessoas demasiadamente ocupadas consigo próprias para pensar coletivamente. Isto muitas vezes aprendem de berço. Querem a formação de nível superior como meio de ascensão social, como ocasião de ganhar muito dinheiro. Em geral, buscam carreiras que pagam bem, não necessariamente por vocação, mas, por ambição.
Igualmente preocupante é o caso das pequenas multidões que todos os anos terminam o Ensino Médio, com sérias dificuldades de leitura, escrita e cálculo, não somente em Riachão do Jacuípe, e que não sabem bem o que vão fazer da vida, esperando contar com algum apadrinhamento político para conquistar uma nomeação na prefeitura ou coisa parecida. São estes e suas famílias, muitas vezes, que trocam votos por gasolina, votos por promessa de emprego, do mesmo jeito que alguns recém-saídos das faculdades também fazem.
Numa conjuntura com essas características, não é muito crível que alguma coisa realmente nova se processe, nas eleições municipais do ano que vem. Não é crível, mas também, não é impossível. Há sinais de movimentações, no sentido de se romperem certas bolhas e, havendo comunicação assertiva e mobilização eficiente da sociedade civil, não se pode descartar novidade política, mesmo porque, como dizem os marqueteiros, eleição é onda e pode ser que, de repente, alguma onda nova desborde sobre as velhas certezas. Ainda assim, no final das contas, tudo esbarra em financiamento.
Coluna Por José Avelange Oliveira