Por José Avelange Oliveira: Os desafios da centro-esquerda para 2026

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….a política de perto é sempre mais complexa do que aquela a que se assiste pela televisão.

Em termos de organização popular, Riachão do Jacuípe, a antiga Região do Sisal e a Bacia do Jacuípe, em si, vão razoavelmente bem. Há muitas associações comunitárias e entidades civis funcionando regularmente, as pequenas comunidades seguem vivas, as pessoas se interessam pelos processos políticos, ajudaram a vencer a onda autoritária, nas últimas eleições presidenciais e tudo. Agora, quando se trata de fazer a diferença entre as lideranças políticas regionais, observando aquelas simpatizantes do discurso autocrático e aquelas outras que realmente estão comprometidas com a retomada do projeto progressista, para o Brasil e a Bahia, aí boa parte da população ainda vacila bastante.

É possível que isto se deva ao fato de que a política de perto é sempre mais complexa do que aquela a que se assiste pela televisão, no sentido de que o pleito municipal envolve laços de amizade, parentesco, necessidades imediatas, dívidas de gratidão, etc. Em todo caso, o que termina sendo decisivo, em se tratando desse costume local ou regional de muitos que elegem ainda candidatos mais comprometidos com interesses do capital, é o analfabetismo político que segue forte, em nossa região, e não poupa nem diplomados.

Não é difícil encontrarmos eleitores de diferentes classes sociais e diferentes níveis de instrução que gostam muito de dizer que votam “na pessoa” e não no partido. Então, se “a pessoa” é carismática, se é um conhecido de longa data, se atende às expectativas individuais, se promete emprego, dinheiro, combustível, etc. os cidadãos votam. Está aí o risco do despejo de votos sobre pessoas muito habilidosas, na cena pública, porém, cativas de interesses próprios ou de partidos que não prezam de verdade pelas lutas e interesses populares.

Os líderes de esquerda e centro-esquerda, por outro lado, se quiserem ter boas perspectivas eleitorais, não podem também desprezar a necessidade do carisma pessoal, que há de ser espontâneo, do contrário, se cai no ridículo de representar papéis e o povo não é tonto, sabendo muito bem observar quem é autêntico e quem não é. Isto, aliás, historicamente tem sido assunto de piadas políticas das mais divertidas. São os casos de gentilezas exageradas ou forçadas, em períodos eleitorais, e gafes em cima de palanques de qualquer coloração partidária.

Frente a isso tudo, claro está que existe um vácuo de formação política, em nossa região, como em todo o país. Por formação política, não se deve entender exclusivamente aquela adstrita ao partido A ou B. As sociedades locais precisam compreender melhor como funciona um município, o Estado, a União, e para isso, é preciso que haja ocasiões para se ampliar o chamado capital cultural de todo o povo.

Numa conjuntura em que os jovens – com boas exceções – saem da escola apresentando dificuldade de leitura, escrita e cálculo, por razões multifatoriais que não devem ser atribuídas exclusivamente aos trabalhadores da educação, faz falta observar quanto também é prejudicial que essa juventude esteja concluindo o Ensino Médio, sem aprender pressupostos elementares da participação social, quando a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional prevê o exercício da cidadania como uma das finalidades do ensino básico.

Felizmente, muitas inciativas vêm surgindo, no sentido de estimular o engajamento entre estudantes, com a eleição de líderes e ouvidores escolares e territoriais, mas, a verdade é que ainda há muito por fazer e que os pais desses estudantes também precisam ser alvo de um trabalho formativo agradável, estimulante e eficiente, como não temos visto, talvez porque não é tarefa fácil juntar gente tão ocupada para falar de algo que a mídia pintou da pior forma possível, ao fazer parecer que política é sempre sinônimo de desonestidade e escândalos diversos. Essa ideia, aliás, serve bem aos interesses das elites.

Para encurtar conversa, convém aos cidadãos e políticos mais progressistas da nossa região notar bem quanto o tempo é curto para lograr resultados esperados, em 2026, mas, nem por isso, se deve sair propondo eventos e mais eventos, remontando mensagens e falações, a torto e a direito. Vive-se um momento de fadiga visual, de escassez de tempo real, de inflação de lives e coisas parecidas. Muitas vezes, a ação sutil bem planejada, o senso de oportunidade, na articulação de pessoas, e a fala bem temperada mobilizam e convencem mais do que meras aparições públicas sucessivas em locais que o povo frequenta, ou barulhos e críticas ferrenhas contra adversários, ou ainda gestos e atitudes clichês.

Evidentemente, as lideranças democráticas locais e regionais também estão sendo desafiadas pelas mudanças sucessivas e rápidas, na sociedade, mas, um olhar muito simplista sobre essa nova realidade, reproduzindo receitas prontas, como o mero uso das novas tecnologias, pode ser muito pouco para responder a esses desafios, mesmo porque os velhos gargalos do clientelismo e da dificuldade de se angariar recursos para projetos políticos inovadores seguem intocáveis. Quem estiver atento a esse complexo de situações e melhor responder ao fenômeno, maior possibilidade terá de romper novas ou velhas bolhas, alcançando objetivos bem traçados.

Por José Avelange Oliveira

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