Todos os que se agitam, de uma forma ou de outra, de olho na corrida eleitoral do ano que vem, em Riachão do Jacuípe, já tiveram ou têm alguma experiência de poder e sabem que o poder é feito uma colmeia de abelhas valentes.
Os que pensam em lhe tirar algum mel para deleite próprio, não sairão completamente a salvo das ferroadas da lei e da opinião pública e os que pensam em distribuir desse mel, em forma de benefícios ao povo, como deve ser, não sairão incólumes, da mesma maneira, quanto ao zumbido persistente dos princípios, ritos e prazos, da limitação dos recursos, etc., etc.
Governar uma cidade, por singela que seja, é multiplicar por mil vezes o desafio de governar a própria vida e, com tudo isso, são consideravelmente muitos os que querem contrair esta imensa responsabilidade, pela qual já passaram todos os que agora colocam seus nomes em apreciação, senão como prefeitos, propriamente, ao menos como agentes públicos, neste ou naquele âmbito da governança local e, tendo por aí passado, ou estando ainda nesse lugar, sabem das próprias imperfeições maiores ou menores e da impossibilidade de se autoproclamarem arautos da moralidade pública, por isto ou por aquilo e porque arautos mesmos, nesta terra não há.
Isto posto, não tem cabimento que a pré-campanha eleitoral local e a campanha, em si, quando começar, se pautem pelas acusações mútuas, nem pela noção ingênua de que há salvadores da pátria a postos para adentrarem na arena, vencerem e governarem da forma mais pura e perfeita que já se ouviu dizer.
Cabe aos pré-candidatos e eleitores fincar os pés no chão jacuipense, seco e sofrido, e reconhecer que o que está se processando, aqui e em todo lugar, é uma disputa entre os imperfeitos que gostam da ideia de serem prefeitos, às vezes até por aquela noção já mencionada, de prestígio, sobre a qual não paira nada de errado, a não ser que haja mesmo muito orgulho junto. A propósito, dizem que Júlio César afirmava que ele preferia ser o primeiro numa aldeia a ser o segundo em Roma.
Então é assim que as defesas exaltadas de uns e os ataques estridentes a outros, tudo muito potencializado pelas redes sociais e eventualmente alimentado pelos próprios postulantes políticos e seu entorno, tudo isso é tolice, embora sempre vá existir, porque a gincana do poder também tem direito às suas torcidas, suas sagacidades. Isso faz parte e quando não se confunde com jogo rasteiro, chega até a divertir. Quem não se lembra das tiradas de Cajueiro, nos pleitos mais antigos ou de certas ocasiões risíveis mais recentes, na história do município, protagonizados por outras figuras públicas bem conhecidas?
Bom, esse preâmbulo todo só para insistir em que as pré-campanhas jacuipenses precisam ser mais propositivas e menos comprometidas com o barulho estéril que já vêm fazendo externamente e internamente também, porque engana-se quem pensa que cada grupo político local é uma unanimidade, em torno da liderança A ou B.
As disputas internas estão fervilhando por baixo e os menos atentos podem se deixar levar por elas, dedicando-lhes muita energia e tempo, dizendo para si mesmos que é tudo pelo bem público, pro bono, no dizer jurídico, mas, reparem bem que o completo interesse pelos outros, na maioria das vezes, não é real, nem no âmbito da religião, ou talvez aí mesmo é que o interesse próprio costuma falar alto, mas, este é um capítulo à parte. Voltemos à política.
Interesses individuais obviamente não são, por si, maus. Não existe quem não os tenha e é possível conciliá-los com um autêntico desejo de servir, na vida pública. Acontece, porém, que muitas vezes, os bem intencionados se perdem, ainda no caminho para o poder, e principalmente ao alcançarem o poder, em razão de comprometimentos de natureza econômica, dívidas, no sentido literal ou figurado do termo.
Diante disso, o ideal seria que a sociedade civil jacuipense pautasse o processo político do ano que vem, dizendo qual o projeto de governança de que o município necessita e como deve ser viabilizado, inclusive do ponto de vista do seu financiamento, porque é isto o que, ao fim e ao cabo, determina se este projeto será autêntico e livre ou se ficará escravo, como tem ficado historicamente, de variáveis estranhas à gestão pública.
Caso estivessem devidamente amadurecidas para tanto, as lideranças civis locais poderiam inclusive cuidar para que aqueles candidatos ao legislativo e ao executivo com vocação política autêntica não precisassem recorrer a formas de doação de campanha comprometedoras de sua atuação futura. Para isso, precisariam estimular doações desinteressadas, mas, como fazê-lo, se a maioria do eleitorado parece esperar precisamente o contrário: doações em dinheiro ou em bens de consumo, dos candidatos, em troca de votos. Tal é o cenário. Cada qual avalie por si.
Artigo Por José Avelange Oliveira