Com Exú abrindo os caminhos, Santa Dulce intercedendo pelos pobres e Oxalá fechando o ciclo da criação, a exposição “Santos e Orixás: Divindades em Papel”, do artista plástico Samuel Cruz, foi aberta nesta segunda-feira (2) no Espaço Cultural Josaphat Marinho da Assembleia Legislativa. A mostra apresenta o trabalho inovador de um motorista de carreta, de 39 anos, que viu a vida se transformar após sofrer um grave acidente, há nove anos, na rotatória da Estrada CIA/Aeroporto, em Simões Filho, comprometendo os movimentos do braço direito.
“Fiquei seis meses com paralisia na mão, pois teve estiramento do tendão. O diagnóstico foi de uma recuperação difícil e, como um tipo de fisioterapia alternativa, houve a recomendação médica para que se fazer atividades manuais”, contou. Samuel revelou ainda que conseguiu se recuperar antes do tempo previsto e percebeu que deveria aprofundar o conhecimento na confecção de peças com a utilização de papel jornal. Sobre esta técnica, ele explicou que aprendeu a desenvolver em 2011, no bairro de Brotas, com a artista plástica Maria Ruth Ramos, que lhe deu os primeiros ensinamentos a respeito do trançado (ligação entre canudos de papel) e a papietagem (uma forma artesanal do recorte de papel).
Para esta exposição na Casa do Povo, Samuel Cruz trouxe uma peça em homenagem aos 100 anos do escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura de 1998, além de divindades de matriz africana, retratados pelos orixás Exú, Xangô, Oxossi, Nanã, Ogum e Oxalá. Peças religiosas do catolicismo, como Santo Antônio, Irmã Dulce, Crucificação de Cristo e Sagrado Coração de Jesus completam a mostra, que fica em cartaz até o meio-dia da próxima sexta-feira (6). “Minha arte é voltada para a ancestralidade, trazendo a memória do sincretismo religioso, quando os negros não tinham a liberdade para cultuar os deuses em que eles acreditavam. Essa exposição, aqui na Assembleia, é uma das mais importantes que eu já participei e espero que outros órgãos públicos abram suas portas para receber minhas obras”, manifestou.
Ao longo da curta carreira artística, Samuel diz que já produziu mais de 200 peças, um trabalho de rara beleza que vem decorando espaços nobres de muitos admiradores em outros países, a exemplo de França, Itália, Chile, Suíça e Estados Unidos. Na capital baiana, sempre com a supervisão da produtora cultural Rosângela Vieira, a esposa e fiel escudeira, o futuro formando em Licenciatura em Artes Visuais pela Faculdade Estácio de Sá já exibiu seus trabalhos em ateliês da cidade, restaurantes e cafeterias no Santo Antônio Além do Carmo (Centro Histórico de Salvador), bem como na Biblioteca Central dos Barris, na Uneb-Cepaia (Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos) e no Shopping Passeo, no Itaigara.
“Estou buscando conhecimento teórico para aprimorar cada vez mais a minha arte, agregando mais valores, porque a produção de arte não tem limites”, garante o artista, que tem a exposição intitulada “Memórias Afetivas” programada para o Shopping da Bahia, de 9 a 31 de outubro. Ele adianta que serão 14 peças em papel, reproduzindo as brincadeiras infantis que não saem da cabeça de homens e mulheres de várias gerações. Dentre elas, enumera, esconde-esconde, puxando corda, carrinho de rolimã, jogo de amarelinha, pé de lata, telefone sem fio e empinando raia. Quem quiser obter maiores informações sobre o artista pode acessar as redes sociais instagram @samuelcruzartepapel ou pelo whatsapp (71)- 98672- 9637.